Invasões Psíquicas

Adenáuer Novaes • 28 de março de 2021

Invasões Psíquicas


Você já se percebeu, de repente, ser tomado por receios que não se justificam? Ou por emoções descontroladas que constelam na consciência, dando uma característica indesejável à sua personalidade? Ou ainda, quem sabe, se sente fixado num pensamento obsessivo seguido de um ritual característico do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)?

Entenda como nascem estas situações e o que fazer para dissolvê-las.

O ser humano sempre acreditou na possibilidade de sua Consciência ser invadida por algo ameaçador que lhe tirasse a sanidade. Para evitá-los, criou mecanismos de suporte, acionando sua inata tendência a sacralizar tudo que pudesse conter a ameaça iminente, garantindo-lhe o equilíbrio psíquico. Esta saída se encontra consignada invariavelmente quando lida com seu próprio Inconsciente que o influencia diuturnamente. Seus “demônios” nada mais são do que representações do que entende seja a improvável ameaça. Seus monstros aterrorizadores, que estão prontos a atacar e possuir sua Consciência, forjados pela matéria mental amorfa de suas fantasias, nada mais são que frutos de sua ignorância quanto ao funcionamento de seu aparelho psíquico. Podem ser dissolvidos sumariamente pela compreensão de seus significados e pela aquisição evolutiva da consciência de si como ser imortal.

Algumas invasões não são produzidas pela percepção da Consciência quando entra em contato com a realidade externa, mas produto da pressão de conteúdos inconscientes latentes que nunca foram trazidos ou passaram pela atividade consciente. As percepções da Consciência, as captações de imagens e de conteúdos emocionais e as informações intelectivas, quando encontram um eu imaturo, ignorante quanto a si mesmo e à dinâmica psíquica, tendem a se transformar em fantasias, utilizando-se da Energia Psíquica protoembrionária disponível. Mesmo que se as considerem invasões externas, a exemplo de uma obsessão espiritual, o eu, recorrendo automaticamente aos conteúdos inconscientes, irá construir seus “monstros” de ocasião.

Há sinais indicativos de que o automatismo psicológico criará mitos para conter as invasões. Imagens formadas pela atividade pré-consciente irão se insurgir para o encontro do equilíbrio psíquico que se faz necessário, pois há tensões a serem dissolvidas. As invasões são manifestações involuntárias, mas forjadas pela necessidade da eliminação dos conteúdos internos que pressionam a Consciência. É um movimento inexorável e impossível de ser contido por muito tempo. É um desequilíbrio a favor da integração da habilidade da harmonia na Consciência.

Vamos conhecer alguns eventos sugestivos de invasões psíquicas?

1. Recorrentes pensamentos involuntários e perturbadores que persistem na Consciência exigindo atenção, compreensão e atitude. Surgem sem necessariamente ter uma causa e nem sempre o conhecimento de sua origem. Quando determinada, é suficiente para eliminar sua ocorrência. Invariavelmente estão relacionados a conteúdos inconscientes que requisitam continuidade de atenção do indivíduo, pela inadequação da experiência vivida. Encontrar esta inadequação é um dos grandes achados de uma psicoterapia.

2. Pensamento extemporâneo e inadequado que emerge na Consciência sem que o eu saiba a razão e procedência. Aparece e desaparece de inopino e sem regularidade perceptível. Os temas variam, são controvertidos, socialmente condenáveis, perversões, ilicitudes ou relacionados a condenações religiosas e encontram-se vinculados a experiências cuja culpa se instalou no Inconsciente. O pensamento passeia na Consciência interferindo no curso das ideias, quebrando a linha de raciocínio e dificultando a conclusão do que se pretendia.

3. Pensamento obsessivo seguido de ritual característico do Transtorno Obsessivo Compulsivo, de difícil exclusão, persistindo no foco de atenção da Consciência. Este tipo de pensamento possui força atrativa capaz de direcionar a vontade e interferir no discernimento e no comportamento habitual. Invade a Consciência sob pretexto de proteger alguém de danos irreparáveis, não restando alternativa senão cumprir uma ordem inútil que ridiculariza o indivíduo. O vínculo do pensamento intrusivo deve-se a algum núcleo de culpa ou de fracasso instalado no Inconsciente.

4. Imagens mentais inadequadas que surgem inundando a Consciência, porém sem conexão com seus conteúdos e sem controle do eu. Trata-se de imagens autônomas projetadas com o intuito de alterar o curso dos pensamentos e de construir uma realidade inexistente. Vagueiam pelo Inconsciente, conectando-se a fantasias e desejos improváveis de serem realizados, alcançando a Consciência como um cenário real, sem terem sido construídas por uma experiência vivida. Confundem o eu pela insistência e pelas diferentes tonalidades com que se revestem ao serem associadas às emoções.

5. Emoções descontroladas e inabituais que constelam na Consciência, forjando características indesejáveis à personalidade. São dotadas de energia capaz de dominar a disposição consciente a ponto de promover um estranhamento e desconhecimento do indivíduo de si mesmo. Ocorrem como um acréscimo abrupto de vitalidade que exige imediata ação a serviço de um propósito deliberado e desproporcional. Causam arrependimento pela inconsequência e constrangimento provocados, denunciando a existência de uma personalidade oposta à habitual.

6. Dúvidas pueris recorrentes que atrapalham simples tomada de decisões, atrasando o cumprimento de tarefas comuns. São dúvidas que introduzem novos protocolos na construção de um raciocínio, detalhando desnecessariamente sua formulação, o que amplia o tempo de executar uma ação. Influenciam na memória, permitindo que se instale a possibilidade de ter existido uma experiência que justifique a dúvida proposta. Surgem como uma nova informação sem que o indivíduo se dê conta da ingenuidade de seu questionamento, muitas vezes, pueril.

7. Receios injustificados, cautelas excessivas que paralisam a disposição para a ação. Surgem como uma provável ameaça à integridade pessoal ou ao alcance de um importante objetivo anteriormente definido. Seu surgimento denuncia um medo latente e um bloqueio na criatividade habitual da pessoa. Ganham força na Consciência, provocando o surgimento de justificativas pouco consistentes e logo dissipadas pela inegável realidade dos elementos que compõem e asseguram os fatos. São medos sutis que concorrem para o aparecimento de horizontes pequenos e de projetos reduzidos em seus objetivos.

8. Ansiedade contínua e injustificada que acelera a velocidade do pensamento, influencia na qualidade das providências a serem tomadas e altera o planejamento de ações anteriormente definidas, dificultando o controle de sua eficácia. Surge como uma excitação e alteração na vontade que se torna imperiosa, exigindo imediata consecução, deixando o indivíduo a mercê de um resultado duvidoso. Trata-se de antecipação de um futuro incerto, sem importância e de cenário plenamente aceitável, provocando desorganização das ideias e o estabelecimento inadequado e confuso de prioridades.

9. Ideias salvacionistas ou mágicas que surgem como solução para conflitos e problemas pessoais e coletivos. Ideias que exaltam o ego como capaz de atingi-las ou de ser o herói responsável por conduzi-las. Às vezes, o indivíduo sente-se o arauto da redenção de um sofrimento atroz, lancinante e cruel que assola a Humanidade, trazendo-lhe prazer em acreditar ser o responsável em eliminá-lo, por lhe redimir uma culpa inconsciente. As ideias salvacionistas surgem sutilmente como um alívio para si mesmo e, posteriormente, aparecem como única saída para todos.

10. Surgimento repentino de uma crise existencial profunda, sem que o indivíduo esteja passando por um momento ou uma fase difícil na vida ou que, propositadamente, esteja em alguma busca ou retiro espiritual. A crise se inicia com um questionamento sobre o sentido real da própria vida e a razão da existência pessoal, culminando com a constatação preliminar de que não há motivo para continuar vivendo. Surge um forte desejo de morrer ou de que todos morram. Há uma perda de vitalidade e do valor pessoal, levando a pessoa ao retraimento e ao mutismo. Assemelha-se a uma depressão, porém sem qualquer causa ou justificativa prévia.

Claro que as invasões psíquicas têm explicações lógicas aceitáveis, a depender da escola psicológica que as analisa e propõe tratamento. Porém não são explicáveis sua ocorrência particular, o tempo de duração, a intensidade com que acontecem, bem como a vulnerabilidade da Consciência em acolhê-las. Há que se pensar também na hipótese espírita, em que as influências espirituais, nocivas ou não, são variáveis importantes. Tais influências devem ser consideradas naturais, não sendo exceções nem patologias provocadas por inferioridades morais.
O estudo das invasões psíquicas requer um conhecimento maior da dinâmica psíquica, sobretudo do caminho percorrido pela vontade, na Mente, para formação de uma ideia.

Nem sempre as invasões requerem tratamento psicológico ou espiritual, pois um eu maduro pode se valer de sua segurança e autodeterminação para modificar o curso das ideias na própria Consciência. De qualquer forma, requerem atenção para que não torne o eu refém de seus conteúdos nem se perca a oportunidade de sua ocorrência para ampliar o autoconhecimento. Qualquer tentativa de controle artificial ou de treinamento mental para afastá-las pode ser danoso, visto que se deixa de investigar suas causas e motivações. A sua análise e compreensão contribui para o processo de autoconhecimento e de autotransformação.

Para saber mais sobre este e demais assuntos tratados por Adenáuer Novaes, veja as obras publicadas pelo autor. Este conteúdo foi extraído do livro: Psicoterapia e Mediunidade.
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