PSICOTERAPIA E MEDIUNIDADE

Adenáuer Novaes • 14 de março de 2021

Psicoterapia e Mediunidade

Quando você vê este título, o que lhe vem à mente? Quais as ideias que você elabora? Será que é possível a união entre esses dois campos?

A Psicologia é a ciência do comportamento humano e dos processos psíquicos que envolvem a consciência de si e da liberdade de escolhas ou do livre-arbítrio. Estudar a Mente e tudo que a ela se refere pertence ao seu campo de estudos, principalmente o reflexo de seu funcionamento no mundo e na personalidade. É do domínio da Psicologia fazer distinção entre a Mente e o ser que a utiliza, muito embora sejam indissociáveis. Por este motivo, interessa à Psicologia a criação, a estrutura e o funcionamento da Mente, bem como a compreensão do ser que a utiliza, que tem consciência de si e que se expressa adaptando-se e controlando o mundo a sua volta.

Contudo, quando a Psicologia despreza as possibilidades de influências espirituais na vida do ser humano, deixa de compreendê-lo adequadamente e, assim, não consegue criar uma psicoterapia eficaz. É preciso entender que o sujeito da Psicologia é o Espírito e seu campo se estende para além da análise de seu comportamento na Dimensão Material. Pensamos assim, numa Psicologia do Espírito, cuja abrangência alcança todos os saberes, todas as culturas e todos os processos psicológicos que envolvem o humano. A Psicologia do Espírito estuda a arquitetura e a dinâmica psíquicas, o comportamento em geral e tudo quanto é produzido pelo ser humano em sua evolução como imortal. Sobre a Psicologia do Espírito, pode-se dizer que é o conhecimento que interessa a todas as ciências, visto que trata da subjetividade do sujeito espiritual que formula o saber.

Com isto, há de se pensar também no aspecto mediúnico que, independentemente de estar fora do domínio do campo estudado pela Psicologia, ele surge e se impõe no trato psicoterápico, o que o insere como elemento presente a ser considerado, estudado e analisado detidamente. 

Este aspecto é importante pois, a sua ocorrência modifica significativamente muitos conceitos. A principal modificação está na consideração sobre os vetores que interferem na determinação do comportamento humano, portanto, no cerne de seu objeto de estudo.

Salvo em ações isoladas de caráter particular, promovidas por Espíritos desencarnados, sobretudo no contato com objetos ou com a Natureza, o que é mediúnico geralmente exige a necessária participação de pelo menos dois indivíduos, um deles intermediário do outro para sua expressão ou manifestação direta; o que é considerado cármico é o que pertence aos registros gravados na memória pessoal e que diretamente provoca conversões e atualizações no comportamento e na vida do indivíduo, à sua revelia; o espiritual compreende tudo quanto ocorre e atinge a vida do ser humano e que não depende de sua vontade consciente, enviesando seu destino. O fenômeno mediúnico não é algo de caráter excepcional nem pertence à raridade das experiências da vida humana, estando presente em muitos momentos do cotidiano, muito embora os relatos geralmente os coloquem como sendo fora da normalidade da vida.

É possível que o leitor traga alguma dúvida quanto ao aspecto religioso, quando se fala nestes temas. E é importante que falemos sobre isso. Mas, o mediúnico, o cármico e o espiritual podem ser tratados fora do domínio dos cânones religiosos, independentemente de que apresentem ideias favoráveis ou contrárias, pois se revelam de forma autônoma em relação às interpretações e denominações doutrinárias. Os conceitos doutrinários das religiões costumam tornar-se inamovíveis, sobretudo quando passam a compor o entendimento coletivo e são assumidos como verdades incontestes. 

Convido o leitor para esta incursão, sem prejuízo de suas convicções religiosas ou filosóficas. A crença religiosa muitas vezes afasta a Consciência da percepção factual da realidade. Por este motivo a crença religiosa pode tornar-se um elemento dificultador para o psicoterapeuta. Quando o psicoterapeuta sobrepõe sua crença religiosa aos fatos, ou quando observa que seu paciente assim age, tende a querer corrigir a distorção, naturalmente deturpando o que é relatado. Crenças religiosas são poderosos vetores direcionadores da percepção e do julgamento da realidade, enquadrando os fatos como pertencentes a categorias valorizadas como de conformidade ou não.

Sigamos em nossa análise sobre a mediunidade. Fatos mediúnicos não são simples criações mentais, pois fogem do controle, do desejo e da manifestação consciente. São fenômenos que se impõem sem que se possa ajuizar com certeza quais os fatores que atuam e que princípios os norteiam. Acontecem à revelia do desejo do eu, mesmo que se considere a realidade como produto de seu interesse enviesado, visto que também dependem de fatores externos. Eles parecem pertencer a um Universo paralelo e improvável de ser compreendido pela lógica vigente na Consciência, que nele passa também a se situar.

Por causa deles é possível acolher a existência de uma outra ordem para a sucessão dos eventos que definem o mundo conhecido. Negá-los, considerá-los absurdos ou relegá-los à conta de alucinações doentias é preconceito que beira o fundamentalismo patológico, sumariamente excluindo-os do campo de possibilidades trazidas pelo sujeito submetido a uma psicoterapia. Em sua ocorrência há outra forma de entendimento dos princípios que regem a Vida e que podem trazer luz ao ser humano sobre si mesmo, suas origens e seu destino.

Muitos desses fenômenos não são perceptíveis, exatamente pela ausência de uma ordem lógica que os enquadre para que haja entendimento consciente. O ego não está acostumado a discriminar, a dar atenção e a compreender que existe essa ordem de fenômenos, portanto, tenderá a enquadrá-los como pertencentes ao Inconsciente, que lhe é desconhecido. São eles que vão proporcionar a possibilidade de construção de um princípio que os justifique. Até lá, tentaremos adequá-los, forçando-lhes a lógica da Consciência desacostumada com o que lhe é estranho e inusitado. Assim é o fenômeno mediúnico. Os fatos se impõem aos conceitos; são soberanos e desafiadores, merecendo estudo, pesquisa e observação acurada.

Compartilho com você, leitor, a minha experiência na Clínica Psicoteráica. Presenciei e estudei muitos fenômenos que escapavam ao meu conhecimento, exigindo-me aprender, ao mesmo tempo que buscava encaminhamento adequado, requisitado pelo próprio paciente de quem cabia cuidar. Na grande maioria dos casos predominou minha ignorância. Algumas vezes, o próprio fenômeno me guiava para o que se tratava e o que deveria promover. Foi por causa dele que tive que aprender a diferenciar o que era considerado, a partir de minhas convicções já consolidadas, do que era oriundo da realidade percebida. Muitas vezes minhas convicções atrapalhavam uma percepção mais precisa e fidedigna do fenômeno.

Houve momentos em que tive que recorrer ao contraditório para me destituir de uma opinião pré-formada sobre os assuntos em análise.
Entre as falas de cada paciente busquei entender-lhe as necessidades e as possibilidades de compreensão do universo de seu psiquismo a fim de lhe oferecer uma saída plausível para seus paradoxos internos e ir ao encontro consigo mesmo. As concepções espiritual, psicológica e pragmática eram simultaneamente requisitadas para que açambarcasse a totalidade de seu ser, no intuito de lhe oferecer a melhor e mais ampla compreensão possível de si mesmo. Muitas vezes percebia que aquela visão conjunta não era suficiente para compreender ou explicar o que ocorria. Deixar que a intuição participasse das análises foi de valiosa importância, sobretudo quando a lógica da Consciência não era suficiente.

É um trabalho de quem busca conhecer e simultaneamente conhecer-se sem a pretensão de ter respostas prontas ou um saber completo sobre o que ouve, vê e percebe. Quando o assunto transcende o conhecimento científico, o saber acadêmico ou o senso comum, a questão se torna desafiadora, exigindo inter e transdisciplinaridade para que se abram novos campos ao entendimento da Mente humana. Tudo parece novo, surpreendente e absurdo quando nos deparamos com o que não se enquadra na lógica racional. O desconhecido é o caminho para a Ciência e para a renovação. O espaço psicoterápico transforma-se em um ambiente alquímico em que elementos imponderáveis se misturam para o surgimento do que transcende a expectativa racional. A psicoterapia não é um trabalho para quem se considera pronto, muito menos é para aquele que acredita que consegue ser imparcial.

Por fim, nesta página concluo: O mediúnico não exclui o psicológico nem se encontra distanciado do campo natural da vida, razão por que merece o interesse pessoal de cada um.

Para saber mais sobre este e demais assuntos tratados por Adenáuer Novaes, veja as obras publicadas pelo autor. Este conteúdo foi extraído do livro: Psicoterapia e Mediunidade.
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