Silêncio e medo
Silêncio e medo

Por todos os lados ecoa um silêncio preocupante pairando sobre a sociedade. Vozes se calam em meio à miséria e à violência que transbordam por todos os espaços urbanos. Terra calada, árida e vendida a preço raso. A dura voz de poderosos de armadura soberana determina, causando medo e insegurança geral. Todos fogem, escondidos em seus cantos sujos, maltrapilhos e abandonados. Não há sossego, nem descanso. O obrigatório silêncio faz surgir figuras grotescas, quais dragões impiedosos que cospem fogo, semeando a destruição da sociedade. As vozes que se erguem escondem fatos, aumentando o número dos cegos, dos surdos e dos mudos. A dura crise se alastra como praga impiedosa, encarcerando corações que não mais sentem, peitos que não nutrem e braços que não trabalham. A contaminação é grande, virulenta e inebriante. Muitos se alienam, sem consciência do que fazem.
Os que se calam perdem porque temem, porque se tornam autômatos e se dissipam em nuvens densas. Eles não dormem, vivem na fantasia de um paraíso que se perdeu em ilusões fugazes. Estão presos na loucura do ter sem merecer. Os que mandam calar temem perder o que não possui como legítimo. São pobres em seus caminhos sem saídas e sem pátria. Querem soluções, mas não alcançam as causas. Vivem manobrando os que se perderam no labirinto do prazer efêmero. Alguns se calam por conveniência financeira. Estes são vis, perigosos e aproveitadores. Andam em carros alados, soltando fogo pelas ventas, encantados com sua cauda bífida e fétida. São ilegítimos e bastardos. A voz que manda silenciar corrompe, dissolve valores e ataca a ética. São coniventes. Se comprazem em ver o incêndio, jogando combustível. São aves de rapina, que se aproveitam dos restos podres que produziram.
Calar-se é sofrer interna e externamente. É preciso gritar, levantar-se do túmulo onde jazem para ocupar o espaço de direito e libertar consciências que se perderam na loucura da ambição pelo prazer e pelo poder. Concordar com os que amordaçam a voz de quem deseja viver é bárbaro. São terríveis. Beneficiam-se dos que adoecem pela insanidade em que padecem. Não são fraternos. São inumanos que se aproveitam dos humanos. Pactuar com os que amordaçam, é sufocar a liberdade, deixando à míngua seres humanos que se perderam em seus devaneios infantis.
Onde estão aqueles que não sofrem, para resgatar a massa humana falida em sua insanidade? Assim ocorre quando se permite o reino da droga, quando o tráfico alimenta a sociedade de fugas danosas e quando o entorpecente é oferecido como solução para o sentido da vida. A verdadeira saída é a dignidade, é a ética e é a educação pautada na prosperidade de todos através do trabalho honesto. Sem uma filosofia existencial robusta, que alcance as classes mais esquecidas da sociedade, ela não sobreviverá ao entorpecimento dos sentidos.